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Lucas

Conheça a verdadeira origem do tabuleiro Ouija
« em: 29 de Setembro de 2020, 15:08 »


Até hoje, a maioria das pessoas tem noções bem repetitivas sobre a história do tabuleiro Ouija, em que espíritos demoníacos se comunicam — e às vezes possuem — crianças indefesas. O diretor Mike Flanagan promove essa ideia no novo filme Ouija: Origem do Mal. A narrativa se passa em 1967: uma viúva e suas filhas ganham a vida enganando clientes que buscam contato com familiares que já morreram. O negócio de família é relativamente inofensivo até o momento em que a filha mais nova descobre um antigo tabuleiro Ouija e tenta se comunicar com o pai falecido, mas acaba sendo possuída por espíritos do mal.

Mas o tabuleiro não teve sempre essa reputação sinistra. Na verdade, ele foi criado pelo espiritualismo, um movimento do século 19 conhecido pela visão otimista sobre o futuro e a vida após a morte. Quando a popularidade do movimento diminuiu, ainda demoraram algumas décadas até que o Ouija finalmente ficasse conhecido como o jogo demoníaco da indústria cinematográfica.

Origem do espiritualismo

O movimento do espiritualismo, muitos acreditam, surgiu em Hydesville, Nova York, nos Estados Unidos, em 1848, quando duas irmãs, Kate e Maggie Fox, disseram ter ouvido uma série de batidas em casa. Ninguém conseguia definir a origem do barulho, que também se manifestava em outras casas visitadas pelas irmãs. As batidas foram logo atribuídas a espíritos, que pareciam responder às perguntas feitas pelas irmãs.


As duas se tornaram celebridades da noite para o dia e o movimento religioso baseado na comunicação com os mortos nasceu logo em seguida. O espiritualismo se espalhou pelo Atlântico e na América do Sul, mas sua popularidade aumentou especialmente na Guerra Civil Americana.

A guerra mais sangrenta da história dos Estados Unidos havia deixado muitas famílias de luto e interessadas em falar com seus entes queridos. Os médiuns espíritas, como as irmãs Fox, ofereciam esse conforto. Em 1893, o movimento foi considerado uma religião oficial e em 1897 o jornal The New York Times divulgou que existiam oito milhões de seguidores do espiritualismo ao redor do planeta.

Desde o início, cristãos alegaram que a religião era apenas um disfarce para rituais de feitiçaria, mas os adeptos raramente mostravam ser obscuros ou mórbidos de alguma forma. O escritor espiritualista Andrew Jackson chegou a desafiar o conceito de inferno, dizendo que todos os espíritos podem entrar em um paraíso na vida após a morte. Espiritualistas também apoiaram causas progressivas, como o sufrágio feminino.



No auge dessa religião, os seguidores desenvolveram várias técnicas e ferramentas para promover a comunicação com os mortos. Uma delas foi a "chamada do alfabeto", em que alguém anunciava todas as letras em voz alta até que o espírito indicasse a letra escolhida com uma batida. Esse método exigiu que maneiras mais eficientes de comunicação fossem criadas com o tempo.

Alguns médiuns se dedicaram à escrita automática, entrando em um estado de transe e permitindo que os espíritos os guiassem para escrever mensagens — um fenômeno que também é retratado no filme de Flanagan. Em 1853, um relato do espírita Allan Kardec afirmou que, durante uma sessão, os espíritos sugeriram que os participantes segurassem um lápis para que pudessem guiá-lo no papel. Com essa técnica, em 1886 surgiu o tabuleiro.

Os lápis foram descartados e os tabuleiros passaram a ter o alfabeto todo desenhado. Vários modelos foram produzidos depois disso. Brandon Hodge é o principal historiador especializado nessas ferramentas, com uma coleção privada de mais de 200 tabuleiros e outros aparatos.

O modelo que a maioria conhece hoje foi patenteado pela Companhia Novelty Kennard, em 1891. Helen Peters, cunhada de um dos fundadores da empresa, perguntou ao próprio tabuleiro qual deveria ser seu nome e recebeu a misteriosa resposta: “Ouija”. Em 1882, William Fuld passou a ser o novo supervisor da empresa e fez uma fortuna com a invenção, abrindo várias novas fábricas. Fuld morreu em 1927, quando caiu do telhado de uma das fábricas que o tabuleiro havia supostamente instruído Fuld a construir.

De jogo de tabuleiro a portal do inferno

Apesar dos avisos, as vendas continuaram aumentando. O maior sucesso ocorreu durante os anos 1960, impulsionado pela contracultura e pelo interesse popular no oculto: o Ouija chegou a ultrapassar as vendas do jogo Monopoly.

Mas foi em 1971, com o romance O Exorcista, de William Peter Blatty, que a reputação sinistra do tabuleiro foi finalmente inserida na imaginação popular. Blatty se inspirou em um caso real de um garoto supostamente possuído em Maryland, no ano de 1949. Segundo um diário visto por padres jesuítas da Universidade Georgetown, o garoto teve contato com o Ouija por intermédio de uma tia interessada em espiritualismo. Os primeiros sinais da possessão começaram pouco depois que a tia morreu. A história de Blatty usou esses detalhes e o resultado foi uma obsessão nacional por exorcismo e demônios.

Paradoxalmente, a reputação demoníaca só aumentou o interesse do público adolescente no tabuleiro, que passou a ser mais do que um meio de falar com familiares mortos e se tornou uma maneira de conjurar forças ocultas. Ellis sugere que, por ser considerado uma janela para o demoníaco, o instrumento incentiva esses adolescentes a “participar ativamente do mito”. Nesse sentido, é quase uma experiência religiosa para eles: o tabuleiro invoca espíritos demoníacos do submundo e os jovens podem desafiá-los ou rejeitá-los.



https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/10/conheca-verdadeira-origem-do-tabuleiro-ouija.html