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Lucas

Amarrações - uma outra perspectiva
« em: 24 de Setembro de 2020, 20:52 »
a·mar·ra·ção
(amarrar + -ção)
substantivo feminino
1. Acto de amarrar ou de se amarrar (ex.: a acostagem termina com a amarração do navio).
2. Conjunto de amarras que seguram o navio.
3. Bóia.
4. Fundeadouro.
5. Ancoradouro.

"amarração", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Amarrações: entre os trabalhos espirituais e de magia, é talvez o mais mal-amado e o mais criticado dos rituais. No entanto é também dos mais procurados por parte de clientes de todos os estratos sociais e de todas as idade e seguramente, um dos mais executados.
O dicionário fala em barcos e atracar navios, mas a linguagem comum associa o conceito de Amarração ao acto de juntar um casal através de magia. Ambas as noções estão correctas.
É fácil criticar o acto de amarrar alguém, porque, dizem, é retirar ao outro a vontade própria. Porque é evocar o sobrenatural para satisfazer uma vontade. Porque é ir contra a natureza das coisas. Porque é baixa magia, como se a magia se medisse em metros de altura....
Pois, a mim, que trabalho na área, acho que tudo depende do contexto. Sem julgar nem moralizar, cabe ao agente de magia, ao médium, feiticeiro, mestre, pai-de-santo, bruxo ou curandeiro, perceber e distinguir, o que é capricho e o que é um legitimo pedido de harmonização. Porque o nosso papel também é esse, harmonizar e arrumar o que está desarrumado e desordenado.
Se há situações em que me pedem amarrações que nem considero o pedido ignóbil e simplesmente ignoro, há outras situações em que fazer o meu trabalho de amarrar um casal é fazer o que está mais correcto.
Muitos casais que têm tudo para se fazer felizes, constroem vidas e planificam envelhecer juntos. Depois, com a pressão do dia-a-dia vão tendo dificuldades de comunicação. Afastam-se um do outro vivendo na mesma casa. Pequenas coisas que não são problemas tornam-se montanhas intransponíveis. Um dos elementos deixa de falar e o outro deixa de querer saber. Começam a pairar duvidas de emoção sobre os dois. Há um que encontra alguém fora do relacionamento e pela simples razão de ter alguém com quem conversar... põe em causa todo o percurso percorrido. O relacionamento torna-se um fardo para ambos... Pensam em separar-se e falam nisso. Mas na realidade, a separação, neste caso, não é um processo que servirá para abrir novos caminhos e novas perspectivas na felicidade de cada um. Muitas vezes as separações são apenas fugas para a frente, porque no essencial, o amor que uniu aquelas duas pessoas está lá todo... Numa situação destas, fazer uma amarração e voltar a juntar este casal, é um acto de harmonização e que promove o bem estar de todos.
Outro exemplo, um encontro de almas. Pessoas que se cruzam, cada uma delas de universos diferentes. O impacto deste cruzamento é tal que abana os alicerces de ambos. O percurso dos dois, desse momento para a frente será feito junto. Uma das pessoas entende isso, mas a outra, apesar de saber que aquele é um amor que tem de viver, sente medo, porque está traumatizado por um passado de relações falhadas... Pois está é mais uma situação em que “amarrar” estes dois é um acto de harmonia e de paz com o universo.
Ou ainda outra situação, mais rara mas que felizmente acontece, um casal de pessoas,q ue se ama e que quer “fixar” ao nível magico esse amor, como um seguro à prova de tudo e todos, que criará uma barreira invisível com a dureza do diamante à volta do seu amor, impedindo que tudo o que seja exterior a ambos entre e faça dano...
Há muitas razões que levam alguém a procurar fazer uma amarração, e nem todas estão erradas.
O primeiro dever do mestre de cerimonia, curandeiro, bruxo ou medium, é perceber como é que o seu trabalho pode melhorar a vida de quem o procura, sem prejudicar ninguém... Não somos juízes para julgar, nem padres para apontar pecados. Na melhor das hipóteses, somos apenas homens e mulheres a fazer o que sabemos para melhorar a vida de quem nos procura.